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A Defensora do Oculto: versão alternativa EB 2+3 do Vale da Amoreira

Para quem não sabe, há alguns dias visitei 2 escolas e fiz com os miúdos uma atividade especial em que lhes lia umas linhas do início d’ A Defensora do Oculto e… eles completavam, criando assim um capítulo alternativo ao começo desta aventura. Aqui está o resultado da história criada em conjunto com alunos de duas turmas, entre o 7º e o 9º ano, da EB 2+3 do Vale da Amoreira.

É, até agora, a história mais diferente da minha. 

 

Querem descobrir porquê? Força!

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Capítulo 1

A Convocação

- Outra vez não! – berrou Chelsea, enquanto agarrava numa maçã com uma mão e na mala preta de pôr ao ombro com a outra. Estava atrasada. De novo.

- Chelsea, não comes? – ralhou a sua mãe, que espreitou da cozinha assim que ouviu a algazarra.

- Não posso, estou atrasada! – respondeu a rapariga, já pronta para bater com a porta, ao fechá-la.

Correu pelas ruas o mais rápido que conseguiu. Chelsea nunca fora uma amante da madrugada e levantar-se cedo para ir às aulas era quase uma tortura. Parou e inclinou-se, pousando as mãos nos joelhos, e respirou fundo. Estava cansada. Tomou fôlego e continuou a corrida. Descuidada, acabou por pisar uma poça de água, queixando-se logo em seguida, mas sem nunca parar de correr. Os seus belos caracóis ruivos iam aos saltos para a frente dos seus olhos, mas não se importava. Teve de parar para respirar fundo. Andava-se a sentir mal há uma série de dias e, teimosa, ainda não tinha ido ao médico. Após recuperar, voltou a retomar a marcha porém a visão começou a ficar-lhe turva e, aos poucos, foi perdendo as forças. Sem conseguir controlar ao certo onde caía, acabou por se encostar a um muro e escorregar por ele abaixo. “Bolas”, pensou, quando percebeu que tinha aterrado mesmo dentro de uma poça de água, um dos vários vestígios da chuvada da noite anterior.

Sentiu um arrepio pela espinha mas não se sentia com forças para se levantar, e foi então que o viu. De cabelos negros e olhos azuis a olhar para si por cima.

- O que é que queres? – Perguntou ela, a custo. Não estava com a mínima paciência para ele.

Jensen, um dos melhores amigos do irmão, ia abrir a boca para se meter com ela como sempre. Mas ao ver o estado em que estava ficou preocupado.

- Estás bem? – Perguntou apenas, abanando depois a cabeça – Anda lá, eu levo-te a casa – Conforme a ajudou a levantar-se, levou a mão à sua testa e suspirou – Estás a arder em febre, caracolinhos.

Entraram em casa para surpresa de Margaret, que depressa se dirigiu à filha. Após meia troca de palavras, decidiram que era melhor levá-la ao hospital, para sua infelicidade.

Os minutos pareciam horas naqueles corredores brancos com banda sonora de espirros e gemidos. E as horas pareciam dias. A bela ruiva não sabe quanto tempo ficou na sala de espera, apenas que, quando foi atendida, deu graças a deus por finalmente poder sair daquele sítio que tanto odiava. Claro que, como dita a lei de Murphy, na farmácia não havia os medicamentos receitados, pelo que Margaret combinou com a senhora passar lá no dia seguinte para os ir levantar.

Passou o resto do dia em repouso, sem sequer se preocupar com o que estava a perder. Na realidade não queria ir para a escola. Não se sentia bem lá, não tinha amigos, não era feliz. Todos os dias eram iguais: acordava sem vontade, corria por ir atrasada, fingia tomar atenção e fugia dos colegas que eram tudo menos acolhedores. Ficar em casa, doente, se pensasse bem, era até uma benção.

Dois dias passaram até se sentir bem para ir para as aulas – fisicamente, pelo menos. Para que não se atrasasse, Margaret combinou levá-la de caminho para o trabalho. Estacionou junto aos portões do Liceu de Diamond City e sorriu à filha, que lhe deu um beijo na bochecha antes de sair e suspirar. “Mais um dia no inferno”, pensou.

- Ouvi dizer que os ruivos estão em extinção. Que pena ainda não teres apanhado nada que te fizesse desaparecer – ouviu. Helen estava encostada à entrada com mais quatro raparigas. Não era a mais bonita nem a mais inteligente, muito menos a mais querida por todos. Mas, por algum motivo, era a mais cabra. E Chelsea era a sua vítima preferida.

- Deixa-me em paz, Helen – respondeu enquanto tentava abrir passagem. Mas a outra não se ficou e, com um brilho de malvadez e gozo no olhar, pegou no dossier que Chelsea levava nas mãos e mandou-o para o chão, dando-lhe um empurrão de seguida à medida que se ria.

A ruiva ia ripostar, porém uma outra mão deu uma estalada na bochecha de Helen.

- Nunca mais vais tratar mal a minha filha, estás a ouvir?!

Margaret, que tinha assistido a tudo, saíra do carro enfurecida e encontrava-se agora frente a frente com o grupo de adolescentes, para vergonha de Chelsea.

- O que é que se passa aqui? – A Sra. Curtis, professora de inglês do grupo, vinha a passar e ficou estupefacta com toda a cena – Chelsea… Helen…? E você, quem é?

Não tardou a irem todas para o gabinete da professora. Não se livraram de um raspanete. Helen saiu com um aviso. Mas a Sra. Curtis foi mais chata para Margaret que, enquanto adulta responsável, nunca se deveria ter deixado levar pelas emoções e ter fisicamente agredido uma jovem com menos de metade da sua idade. Estava errado, mesmo que a sua intenção inicial fosse proteger a filha. E custar-lhe-ia uma queixa na polícia.

- Chelsea, gostava de falar contigo a sós, se não houver problema – disse a professora, quando terminou de falar com Margaret.

- Claro que sim. Mãe, vai andando. Tens de ir trabalhar e eu depois sigo para as aulas.

- Mas…

- Vai. Eu fico bem.

Margaret apenas sorriu e assentiu com a cabeça, afastando-se daquela sala com um peso no coração. A ruiva voltou a sentar-se em frente à secretária da professoa e viu-a aproximar-se de si com um ar mais simpático, talvez até acanhado. Como se não soubesse bem o que dizer.

- Chelsea, eu sei que não tem sido fácil para ti estares aqui todos os dias – começou por falar – Sei que não é onde queres estar, que não te sentes bem, que queres mais… E o que te posso dizer é que isto é apenas uma fase da tua vida, não te define por completo. Quem tu és, quem tu vais ser, depende de ti e das escolhas que fizeres. E eu tenho uma coisa que gostava de te dar – do bolso retirou um belo pingente em forma de lágrima, roxo. A ruiva olhou para ela curiosa. porque haveria de lhe estar a dar um colar?

- Porquê? – Acabou por perguntar, à medida que aceitava.

- Porque, minha querida, o mundo não é preto e branco e existe muita magia à nossa volta. Só temos de a descobrir. Deixo nas tuas mãos, agora, o que queres fazer.

Agora deixo-vos um novo desafio... que é continuar esta história!

Em breve sai uma nova versão, criada com meninos de outra escola!

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